quarta-feira, 18 de junho de 2003

Inconsciência do sonho

Queria sonhar. Sonhar como quem caminha deitado, de olhos fechados e ainda assim visse tudo à minha frente, como se estivesse de pé e fosse muito alto, mas deitado. Sonhar com um grito, que se prolongasse tanto que o ouvisse até lá na frente, ao fundo passado muito tempo. Ouvia esse grito, lançado do antigamente, que é agora, aqui, deitado.

Não me escapa nada. Está sol e nublado ao mesmo tempo, tem chuva e tem neve e calor, simultaneamente. Caminho, de pé, mas deitado. O grito avança, (sempre um passo, ou muitos)da forma como se propaga o som e eu vou atrás.

Gritei um bom bocado e silenciei-me. O som permanece, não sei se para trás, ou aqui, que é a frente para quem vem atrás. Adiante escuta-se, porque as aves desprendem-se das árvores a um ritmo certo, é o grito que as lança no ar.

Queria depois do sonho, sonhar outro sonho , onde os gritos fossem os murmúrios perfumados dos poetas. Um sonho sonhado dentro de um sonho, porque para se sonhar assim, só no resguardo das coisas pensadas a dormir, longe da consciência.

A andar de pé, mas deitado. A ver tudo. A poder ver tudo, sem ter ou desejar fechar os olhos a qualquer coisa. A realidade o próprio sonho. O sonho por uma realidade que desbrave os níveis mais inferiores do que temos contido em nós.




Tomaz XVIII/VI/MMIII

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